domingo, 6 de maio de 2012

Tudo tem sua hora?



E quem somos nós para ter o poder de decisão sobre todas as coisas? Os livros de auto-ajuda ensinam que a vida está em nossas mãos; que, se algo de mal acontecer, “fomos nós que deixamos”; e as coisas boas “só vêm quando estivermos abertos para elas”. Tudo muito óbvio, muito positivo, mas comecei a duvidar. Peguei um recentemente que falava sobre um tal de “relógio da vida”, que seria o mecanismo para organizarmos nosso tempo em função daquilo que desejarmos alcançar. Haveria a hora do amor, a hora do trabalho, a hora de ter filhos, a hora de comer e a hora de ter tudo ao mesmo tempo, que só viria bem tarde. “Pessoas programadas são mais felizes, e não deixam o fator surpresa estragar seus planos”, estava escrito.
Os exemplos que a autora dá são de pessoas bem sucedidas que teriam alcançado suas metas seguindo instintivamente o tal relógio: a mulher que conseguiu se casar com o homem rico que sempre desejou, o cientista que se fechou para um amor de adolescência mas fez história ao descobrir uma fórmula, o cantor que demitiu todos os parceiros de banda para brilhar sozinho e alcançar um sucesso inimaginável. Comecei a divagar se a mulher, agora rica, era muito amada; se o cientista não se pegava em momentos de amargura e saudade depois de finalmente descobrir sua fórmula famosíssima; se o cantor não lembrava como era pobre — mas tão mais feliz — quando tinha os parceiros ao lado.
Programar o “relógio” é um ato frio, focado e cerebral, mas e as surpresas da vida, que é mais feita delas do que de programações? Quando pensamos que não seremos mais capazes de amar, o amor nos bate à porta; quando achamos que aquele trabalho é tudo na vida, vem uma crise e a empresa tem que cortar custos (a começar por nós); quando finalmente vamos usar aquela roupa guardada para a aguardada festa, descobrimos que engordamos 1kg e teremos que ir para o plano B; quando bolamos uma viagem inesquecível à praia, chove torrencialmente.
Geralmente, perdoem-me os autores dos mandamentos da felicidade, acontece sempre o contrário: as coisas realmente boas acontecem quando menos esperamos, um grande sofrimento chega mesmo que tenhamos tentado fazer tudo certo, e a vida nos escapa das mãos como água de cachoeira. Tudo tem sua hora, mas nem sempre compete a nós, em nossa vã prepotência, fazer a agenda. Às vezes é preciso deixar as coisas acontecerem e abrir a janela para o vento e o sol entrarem.
Quando entrevistei recentemente Christiane Torloni para a Vogue Brasil, ela me disse que aprendeu com um guru que a gente nunca sabe o que vem primeiro: se a próxima respiração ou a próxima vida. Posto isso, cai por terra a falsa ideia de que temos controle sobre tudo e que podemos adiar a felicidade em nome de outros planos. Essas atitudes geralmente não terminam bem e resultam em grandes solidões.
Na verdade, só existe uma hora certa: a de se permitir deixar as coisas boas chegarem, sobretudo quando elas não estavam programadas.

Bruno Astuto