Em 1979,
Dalton Trevisan, em seu livro “Vinte Contos Menores”, escreveu o texto “Uma
vela para Dario”. De acordo com a Editora Objetiva, essa estória faz parte dos
100 melhores contos brasileiros do século, e conta a morte de um transeunte
que, momentos antes, passa por um gradativo processo de perda, tornando-se
refém de uma desumana extorsão de seus pertences.
Dario,
porém, surpreendeu-se com um gesto efetivo de solidariedade proveniente de
alguém inesperado: “um menino de cor e descalço veio com uma vela, que acendeu
ao lado do cadáver”. Essa passagem demonstra, claramente, a importância de
valores-princípios imprescindíveis à essência da condição humana. Ser solidário
e ter compaixão ao próximo são sentimentos filantrópicos, os quais levam o
homem a ajudar os demais, prestando-os caridade. Isso necessita ser priorizado
por duas instituições fundamentais no desenvolvimento de uma criança: a escola
e a família.
Elas são as
responsáveis por construir – ou pelo menos contribuir para - a consciência e o
caráter dos indivíduos. Desde pequenos, os infantis são levados à escola e lá
passam a ter um convívio diário, formando relações interativas com pessoas
distintas de cor, raça, religião, poder aquisitivo. Essas diferenças ou até
mesmo desigualdades só serão bem aceitas ou, no mínimo, respeitadas, se houver
uma base familiar estruturada, cuja educação é focada na tolerância ao que não nos
é comum e no discernimento de que todos merecem ser tratados com dignidade, a
fim de estabelecermos uma rotina de equilíbrio fundamentada no pensamento
humanitário.
Essa
reflexão humanística propõe uma geração mais pensada e “gente de pessoa”, como
disse Guimarães Rosa, em “Recado do Morro”. Isto é, um povo com conteúdo
interior, de fato, no qual a essência é prioridade em detrimento da aparência,
gerador de tolerância, amor e solidariedade. Se essas características inerentes
ao Ser humano forem tratadas com descaso e esquecidas, restará, apenas, uma
sociedade individualista, fruto do pensamento capitalista, na qual perderá, sem
perceber, a própria identidade, tornando-se solitária, egoísta e ambiciosa.
Viveremos,
então, em um “circuito fechado”, como escreveu, muito bem, Ricardo Ramos, onde
as pessoas seriam tão imediatistas e mecânicas, ao ponto de ficarem depressivas,
tragadas pela própria insensibilidade. Pitágoras, certa vez, disse: “educai as
crianças, para que não seja necessário punir os adultos”. Acredito, piamente,
pois é no desenvolvimento que erros futuros podem ser evitados, se tratados com
responsabilidade e atenção.
Diante disso, dou crédito ao investimento psicológico das crianças de hoje, para que no futuro possuam consistência, sabedoria e potencial intelectual para perpetuarem o conhecimento humanitário em prol da globalização. Afinal, como diria Pierre Dac, “o futuro é o passado em preparação”.
Amanda Larissa
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