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sábado, 15 de outubro de 2016
sábado, 26 de abril de 2014
Filosofando – Introdução à filosofia
Maria Lúcia de Arruda Aranha
“O mundo cultural é um sistema de
significados já estabelecidos por outros, de modo que, ao nascer, a criança
encontra o mundo de valores já dados, onde ela vai se situar. A língua que
aprende, a maneira de se alimentar, o jeito de sentar, andar, correr, brincar,
o tom da voz nas conversas, as relações familiares, tudo enfim se acha
codificado. Até na emoção, que pareceria uma manifestação espontânea, o homem
fica à mercê de regras que dirigem de certa forma sua expressão. Podemos
observar como a nossa sociedade, preocupada com a visão estereotipada da
masculinidade, vê com complacência o choro feminino e o recrimina no homem.
[...]
Considerando isso, como fica a
individualidade diante da herança social? Há o risco de o indivíduo perder sua
liberdade e autenticidade. Veste-se, come-se, pensa-se, não como cada um
gostaria de se vestir, comer ou pensar, mas como a maioria o faz. Os sistemas
de controle da sociedade aprisionam o indivíduo numa rede aparentemente sem
saída.
Entretanto, assim como a massificação pode
ser decorrente da aceitação sem crítica dos valores impostos pelo grupo social,
também é verdade que a vida autêntica só pode ocorrer na sociedade e a partir dela.
Aí reside justamente o paradoxo de nossa existência social, pois, como vimos, o
processo de humanização se faz pelas relações entre os homens, e é dos impasses
e confrontos dessas relações que a consciência de si emerge lentamente. O homem
move-se, então, continuamente entre a contradição e sua resolução.
Cabe ao homem a
preocupação constante de manter viva a dialética, a contradição fecunda de polos
que se opõem mas não se separam, pela qual, ao mesmo tempo em que o homem é um
ser social, também é uma pessoa, isto é, tem uma individualidade que o
distingue dos demais.
Portanto, a sociedade é a condição da
alienação e da liberdade, é a condição para o homem se perder, mas também de se
encontrar. O sociólogo norte-americano Peter Berger usa a expressão êxtase
(ékstasis, em grego, significa "estar fora", "sair de si")
para explicar o ato possível de o homem "se manter do lado de fora ou dar
um passo para fora das rotinas normais da sociedade", o que permite o
distanciamento e alheamento em relação ao próprio mundo em que se vive.
A função de
"estranhamento" é fundamental para o homem desencadear as forças
criativas, e se manifesta de múltiplas formas: quando paramos para refletir na
vida diária, quando o filósofo se admira com o que parece óbvio, quando o
artista lança um olhar novo sobre a sensibilidade já embaçada pelo costume,
quando o cientista descobre uma nova hipótese.
O "sair de si" é remédio para o
preconceito, o dogmatismo, as convicções inabaláveis e, portanto paralisantes.
É a condição para que, ao retornar de sua "viagem", o homem se torne
melhor.
O verdadeiro fundador da sociedade civil foi o primeiro que, tendo
cercado um terreno, lembrou-se de dizer isto
é meu e encontrou pessoas suficientemente simples para acredita-lo. Quantos
crimes, guerras, assassínios, misérias e horrores não pouparia ao gênero humano
aquele que, arrancando as estacas ou enchendo o fosso, tivesse gritado a seus
semelhantes: “Defendei-vos de ouvir esse impostor; estareis perdidos se
esquecerdes que os frutos são de todos e que a terra pertence a ninguém”.
(Rousseau – Discurso sobre a origem e os fundamentos da desigualdade entre os
homens)
domingo, 23 de dezembro de 2012
quarta-feira, 14 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
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